Talvez por hoje ser comemorado o
dia internacional da mulher, talvez por alguns não entenderem o que esse dia represente,
talvez por eu me pegar tendo pensamentos carentes e sendo frágil em tantos
momentos e saber que o dia de hoje nada tem de comercial e se trata de uma
lembrança da força feminina e da desvalorização enquanto seres humanos que nós
mulheres já sofremos, talvez por essas coisinhas eu tenha resolvido a escrever aqui...
Talvez eu tenha me sentindo
traindo aquelas mulheres que lutaram tanto para eu ter direito ao voto e com isso
ter o poder de escolher quem irá me representar. Mulheres que morreram
queimadas lutando pela qualidade de vida no trabalho. Mulheres que queimaram
seus sutiãs por uma sociedade mais justa. Mulheres que lutam pelo direito de
serem Anittas, Carla Peres, Mulher Melancia e mostrarem seus corpos quase nus
sem querer dizer que os “machos” possuem qualquer tipo de direito sobre estes. Me sinto traindo todas essas
mulheres que lutaram pelo direito de eu ser solteira toda vez que permito que
minha carência tome conta de minhas decisões.
Me trai algumas vezes, quando
encanei nas relações, quando procurei fórmula mágica de manter um
relacionamento, quando me senti ignorada e ainda assim valorizei a existência
do outro.
Trai todas as conquistas quando prendi
meu pensamento em entender a lógica masculina, quando me permiti crer que havia
sentimento mútuo e no instante seguinte me foi demonstrado indiferença e ainda
assim segui focando meu tempo nessa pessoa. Quando Idealizei, deixei o tempo
passar, acreditei que algo estava indo para um rumo quando na verdade o destino
era outro. Estar com alguém para tirar “outro” da cabeça, quase como prêmio de
consolação. Trai tudo quando foquei em estar com alguém.
Me trai quando fui permissiva ao
ter negado o meu direito de sentir-me protegida, não me refiro a proteção
contra perigos externos, mas protegida contra pessoas que agridem meus
sentimentos. Quando mesmo sem ter escolha mantive a esperança.
Trai tudo quando lamentei o tempo
que perdido acreditando que aquele homem seria diferente. Quando me fechei para
o mundo.
Talvez por ser o dia
internacional das mulheres eu tenha percebido o quanto fico me desgastando com
relações baseadas na futilidade e na carência. E tenha percebido que o ontem é
passado e não pode ser mudado, mas que hoje posso mudar o meu futuro.
Percebi que tive mais do mesmo. Foi perturbador ver que o diferente era igual. Péssimo pensar que não existe o cara
certo que todos apenas esperam pelo momento de serem os babacas da vez. Criar expectativas é apenas questão de tempo para que outro cause decepção.
Me prendi em relações idealizadas.
Deveria ter saído dessa armadilha enquanto a lembrança ainda poderia ser positiva, me
preservando de eventuais machucados.
Brinquei de namorar, de casar. Tudo por gostar
da companhia do outro, mas fui covarde e mesmo sabendo que não amava nem era
amada, ainda me mantive ali como cachorro dando a cabeça em troca de carinho.
Não tenho que gostar de alguém
mais do que a mim. Não tenho que querer estar com alguém, tenho que gostar da
minha companhia. Não posso permitir a imposição da sociedade de que só somos
felizes em pares. Isso é sentimento de solidão.
Vivi o momento, mas quando deixarei
o futuro entrar em minha vida? Perdi tempo com mentiras que contei para mim e
bloqueie quem merece minha atenção de se aproximar.
E aí no dia internacional da
mulher e de pensamentos confusos chego a constatação de que não quero mais
ninguém, me sou suficiente. Não vou mais perder meu tempo com ninguém além de
mim.
Meu tempo é o agora e nunca mais
vai voltar. Então não vou me dar a outra pessoa, não vou deixar entrarem em meu
cotidiano enquanto for fingimento ao invés de ser especial. Não quero conto de
fadas, quero algo real. Não quero fingir um compromisso, quando no fundo ambos
sabem que não é isso. Não quero suprir carências, quero troca justa.
O botão de desliga está na minha
mente, quando tornar lúdico o quero para minha vida, aí a pessoa certa vai
aparecer. Sem buscas. Sem jogos.
Felicidade e amor são opções de
vidas, não são bônus, prêmio por bom comportamento ou algo do gênero.
Relações
baseadas em carência apenas aproximam mais pessoas carentes e confusas e
aumentam o meu vazio. Chega disso para mim. Chega de me enganar.
Eu quero e preciso acreditar no
amor. A pessoa certa para mim pode ser você ou pode ser simplesmente eu sem
mais ninguém.
Meu dia será feliz, independentemente
de ser hoje 8 de março ou 15 de junho. Posso viver como eu julgar ser melhor,
pensar e fazer o que eu quiser, graças as lutas que algumas mulheres travaram.
Estas mulheres, assim como eu, não merecem minha traição.