Lá estava Ana gritando, descabelada, com os calçados nas
mãos.
Quem via a cena levava um tempo para entender o que ela balbuciava enquanto
tentava recuperar seu fôlego.
- Parem tudo! Parem já!
Todos olhavam atentos, enquanto Ana sacudia freneticamente
seu bloco de anotações.
Na sala, todos parados, olhares curiosos e pensamentos no que ela trazia de tão
interessante desta vez.
Pessoas e prensas paradas, no aguardo da notícia do século.
Iolando se aproxima e tomou o bloco para ver o que havia
ali, já que Ana não conseguia recuperar o fôlego. Ela havia atravessado a
cidade a pé, andou alguns quilômetros para levar antes do fechamento da edição
aquela “bomba”. Olha a primeira página: uma pequena lista, parecendo
tópicos. Coçou a cabeça tentando entender aquelas informação aparentemente sem
nexo:
//Antony Rossphelth
// Rosiane Bourbon
// Rosiane Bourbon
// Navio Macktub III
Vitor analisava junto com Iolando o que eram as anotações,
ao perceberem que havia uma folha toda dobrada, anexada ao bloco de Ana. Era
uma carta manuscrita, assinada pela Rosiane Bourbon, famosa pelas suas
campanhas em prol da virgindade.
Uma carta de amor, entre Rosiane e um marinheiro.
“Querido Antony;
Envio esta carta como
uma última tentativa de notícias suas.
Ainda sinto em meu corpo o teu cheiro, em minha pele o leve tocar de teus dedos.
Sempre que passo pela calçada do Hotel que dividimos a cama, lembro da noite que fui possuída por ti, que fui refém e carrasco.
Um pouco envergonhada, confesso, com tamanha brutalidade a que me tomaste, mas que eu não revidei, aceitei, gozei.
Seria um lindo momento em nossa vida, se não fosse pelo o que destino nos reservava. Uma separação. Um oceano entre nós.
Já faz algum tempo que deixaste de mandar notícias, fico apenas com aquelas memórias de meses, mas que me parecem ter acontecido ontem
...
Sempre Sua,
Rosy Bourboun.”
Ainda sinto em meu corpo o teu cheiro, em minha pele o leve tocar de teus dedos.
Sempre que passo pela calçada do Hotel que dividimos a cama, lembro da noite que fui possuída por ti, que fui refém e carrasco.
Um pouco envergonhada, confesso, com tamanha brutalidade a que me tomaste, mas que eu não revidei, aceitei, gozei.
Seria um lindo momento em nossa vida, se não fosse pelo o que destino nos reservava. Uma separação. Um oceano entre nós.
Já faz algum tempo que deixaste de mandar notícias, fico apenas com aquelas memórias de meses, mas que me parecem ter acontecido ontem
...
Sempre Sua,
Rosy Bourboun.”
Não seria nada de mais, nenhuma notícia interessante, se a
Stra. Bourbon não fosse o símbolo de castidade da alta sociedade. Tentava, ela,
levar as jovens ao pensamento de que seus corpos não poderiam ser “violados”
até o casamento. Defendia uma bandeira de que o sexo era sujo, feio e que não
deveria ser praticado sem o fim da procriação. Todos os conhecidos dogmas da
Igreja Católica eram transformados em banners para postagens diárias nas redes
sociais da solteira e imaculada Rosiane.
A carta estava sem data, mas o papel amarelado entregava
tratar-se de um passado distante.
Agora a vergonha de Rosiane não estaria apenas no ato de
sentir saudades daquele homem misterioso que, aparentemente ,depois daquela
noite jamais voltou a se comunicar. Seria a queda de uma reputação puritana. Quem
a conhecia, poderia dizer que em seus olhos havia um certo misto de tristeza e
raiva. Agora poderiam entender o que atordoava tanto aquela mulher.
Ana havia conseguido conteúdo suficiente para uma matéria
com embasamento, todos os fatos haviam sido pesquisados, encontrando até a
lista de tripulantes do navio Macktub III a qual constava o nome do então
marinheiro Rossphelth. Uma lista de
hóspedes do antigo Hotel, que hoje era apenas um ponto turístico da pequena
cidade, confirmava que os jovens haviam ali estado em uma noite de outono.
Iolando, chefe da redação, estava em dúvidas se comprava a
briga contra a “Dama Símbolo da Moral e Bons Costumes” ou se deixava a história
de Ana em uma gaveta, como tantas outras... Ana acusava Rosiane de
prostituição, não de seu corpo, mas de suas idéias e Iolando estava justamente
pensando se ao engavetar o artigo não estaria ele, através de seu jornal, sendo
cúmplice de tal prostituição?