Foi assim, sem mais nem menos, sai da casa do zero.
Já tinha me acostumado com os 30 e mesmo com o meu problema de dicção, eu achava tão fonético dizer que tenho tinha "trlinta" (só quero ver como vai ser quando eu tiver que dizer que tenho 33, vai ser algo mais ou menos assim: "trlinta e trlês").
Não mudou nada no mundo do momento que eu dormi com 30 e acordei com 31, mas não teve jeito, foi sair da cama e me deparar com o espelho para iniciar a saga de catar rugas, sinais do tempo, gordurinhas fora do lugar, fios brancos... qualquer nova evidência de que o corpo envelheceu. Por mais desencanada que eu seja, hoje me rendi. Não encontrei nada que não estivesse ali desde antes de ontem, mas hoje o significado é mais pesado... já não tenho mais 30. E agora?
E o que eu fiz nesses últimos 30 anos de vida? Nada, me parece...
Fico procurando um ponto da vida que tenha valido realmente a pena, que tenha feito a diferença de alguma forma. Foram 30 anos e eu não consegui salvar o mundo, digamos que não estou me parecendo muito competente neste momento...
Começaram as mensagens de feliz aniversário, os amigos que estão longe mandando seus carinhos. Fiquei respondendo (sim, eu respondo mensagem de aniversário. Respondo qualquer mensagem no dia-a-dia, imagina se iria perder a chance de responder mensagens cheias de carinho endereçadas a mim?). Lembrando daquelas pessoas, dos momentos, dos encontros, das mudanças que cada uma delas me proporcionou, da forma que elas me enxergam no mundo... basicamente tive uma epifania...
Não salvei o mundo, nem as baleias, ou golfinhos, tartarugas ou todos os cães de rua... não adotei uma criança ou terminei com a fome da África, não solucionei a seca de São Paulo, do Nordeste ou de qualquer lugar, não tive uma ideia brilhante para acabar com a miséria, a fome ou qualquer medida que fosse ter meu nome estampado no jornal... não fiz nada que valesse a pena alguém lembrar de mim por mais 30 anos.
Meu nome já esteve estampado no jornal, já juntei pessoas que nunca tinham se visto e que passaram a criar juntos, que tiraram ideias das gavetas e colocaram em prática... já sai algumas vezes no jornal com algum projeto bacana cheio de gente mais bacana ainda (orgulho de mamãe: nunca sai na página policial)... fiz, faço coisas que me alegram, que me despertam para o mundo, que me transformam. Permitem que eu deite a cabeça no travesseiro com 30 anos e acorde com 31 com a certeza de que estou fazendo o meu melhor e que meu alto grau de exigência, com tudo, faz com que eu seja exigente com as minhas escolhas, com as minhas conquistas e é por isso que as vezes eu esqueço o tanto de coisas legais que eu já fiz em 30 anos, mas ainda bem que eu tenho um montão de gente que não me deixa esquecer! Valeu gente, tenho um pouco de cada de vocês dentro de mim e são as escolhas de amizades que eu fiz que me tornam diariamente quem eu sou!